quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Bipolar ou Multipolar...?  Claudio Henrique da Silva

O termo bipolar foi adotado pela medicina para rotular um mal que era conhecido como psicose maníaco depressiva, uma doença do cérebro.
A nova denominação,sem dúvida, ficou muito mais bonita,porém, acarreta um problema:
bipolar é um termo extremamente abrangente, para definir opostos, contrastes, pares, tanto que,
antes mesmo de utilizar-se o termo "bipolar", um derivado desta palavra já era largamente utilizado
pela sua facilidade de assimilação: "bipolarização".
Utilizaram-na muito (a palavra) no período histórico conhecido como guerra fria em frases do tipo
"bipolarização do mundo" para ilustrar a divisão do mundo em dois blocos: capitalista e socialista,
ou seja, dois pólos.
Podemos dizer sem medo de errar que um imã é bipolar, pois apresenta dois pólos: positivo e negativo. 
Mesmo sem guerra fria o mundo continua sendo bipolar: pólo norte e pólo sul.
Até mesmo o cérebro, doente ou saudável, apresenta dois pólos: direito e esquerdo,criativo e analítico.
Neste sentido, somos todos bipolares?
É lógico que somos! corpo físico e abstrato, carne e espírito.
Computadores são bipolares: hardware e software.
Bom, bipolar encaixa-se em tudo, até numa
receita de bolo, acredito.
É uma palavra, talvez, tão indefinida (ou definida demais...), que por isso mesmo utiliza-se facilmente para definir qualquer coisa: tudo que tiver um par, um oposto, ou absolutamente qualquer
motivo ou desculpa que encontrarmos para utilizá-la. 
Nada escapa, olhe para os lados, com cuidado, existe uma conspiração: tudo que te cerca é bipolar!
(olhei agora para meu celular, sempre vi-o inocente mas acabei de desmascará-lo: o infeliz é bipolar...
e sou participante disto, acreditam??? ao carregar ou não sua bateria, eu mesmo defino seus dois pólos: carregado ou descarregado (bateria) e através da tecla on/off defino os pólos ligado ou desligado...)
Bom, entendendo-se desta maneira, o termo bipolar é um fenômeno único na nossa linguagem pelo que citei no texto acima, por ser utilizado como um "coringa verbal" para rotular qualquer comportamento, por mais comum ou absurdo que seja.
Uma palavra, para ter seu sentido alterado, precisa de décadas e décadas, atravessar gerações e gerações, mas (o que direi a seguir,acontece com apenas uma palavra, entre milhares) a palavra bipolar, vejam, nasceu tão abrangente no seu sentido que deveria deixar de ser "bi" para ser "multi".
A intenção da palavra até que foi boa, quis ajudar a tudo e a todos, quis explicar toda e qualquer coisa, e, por isso mesmo, mal nasceu e não suportou a carga, acabou explodindo (coitada) querendo
explicar tudo, mas na verdade não explicando nada...
Bom, agora para falar sobre bipolar, ou o que deveria ser a bipolaridade, como doença, dentro dos
termos médicos, creio que ninguém conseguirá, realmente explicar com palavras, o que é ser bipolar.
Mas quem quiser "googlar" (viva a capacidade criativa verbal social, eis aí, logo acima, a palavra que surgiu da necessidade ou do mero comodismo, da preguiça de folhear pesados e burocráticos dicionários, pois, como diriam os poetas do agreste,heróis da poesia popular: "se nóis num sabi
nóis invênta, nóis só num fica sem si ixpressá, fais parti da nossa capacidade di si comunicá!") mas voltemos ao assunto: quem quiser "googlar" o termo bipolar ou bipolaridade, entre tantos sites e blogs, verá que existe, atualmente, um desconforto tanto entre médicos como pacientes psiquiátricos,
ou mesmo dos que aguentam chiliques daqueles que justificam-se dizendo: "desculpe-me, é que sou bipolar..." e o desconforto é, justamente, pela perda da definição daquele que deveria ser um termo médico.
Mas, sinceramente? Não vejo problema nenhum que os jovens e adultos, enfim, a nossa sociedade
como um todo, tomem para si essa palavra até bonita, "bipolar", porque ela é moderna, legal, cool,
encaixa-se perfeitamente em qualquer assunto e conversa dos nossos círculos sociais, e não explica nada, mas pelo menos ilustra tão bem, as nossas dualidades, e também os atos racionais e irracionais que surgem conforme a razão, a falta dela,ou até mesmo pela simples conveniência
do momento, em que podemos ter atitude ambíguas.
O melhor, mesmo, é deixar o termo bipolar como domínio público para esta juventude bonita.
Se encaixará, perfeitamente, ao convívio deles (jovens), pois bipolar é uma palavra também bonita,
tanto quanto eles.
Fiquem, então, os belos com os belos, e que os psiquiatras utilizem termos e nomes horríveis,
como sempre fizeram, para essas doenças mentais que também são horríveis, e no final vai dar tudo certo.
Bye.







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