Publiquei aqui no blog, um texto de Rubem Alves muito profundo e verdadeiro e que ao final ele sugeria a "Morienterapia", ou seja uma disciplina, um curso, que abordasse os cuidados com quem está morrendo. O morienterapeuta que, segundo Rubem Alves, entraria em cena quando a despedida fosse certa, e creio eu que deveria ser uma pessoa tranquila, que tenha um bom entendimento sobre morte e vida e morte em vida... Pois é muito mais triste morrer em vida do que realmente morrer. Que soubesse lidar bem com o fim, com o fim dos que ele cuida e com o seu próprio fim... Aí teria outro que cuidasse dele... Desse morienterapeuta se esperaria cuidados e carinho com o corpo e com o espírito de quem se prepara para o desenlace, e também trataria a família deste paciente, pois ela também precisa de cuidados e de esclarecimentos para que não fique prendendo o espírito de quem tem que partir...
E sabem o motivo de eu estar abordando este assunto hoje? Por que depois de tomar conhecimento do texto de Rubem Alves, me coloquei a refletir sobre o assunto e entendí que na verdade seria muito importante a formação de terapeutas para este momento terminal, para que nos esclarecesse que não devemos querer prolongar os dias de alguém só para não perdê-lo, pois se olharmos bem para a situação veremos o quanto há de egoísmo quando tentamos manter alguém vivo quando é chegada a hora da partida... Tudo tem seu momento, inclusive morrer.
Relendo o texto do Rubem, fico pensando... Eu não queria ter assistido ao sofrimento do meu pai, entubado, cheio de monitores numa UTI... Mas não tive a coragem e nem mesmo a clareza de que o fim era chegado, fiquei fazendo de tudo para que ele não partisse... Preferí acreditar que os procedimentos fariam com que ele se mantivesse vivo o tempo suficiente para a sua recuperação... Fechei meus olhos para o óbvio... Ele mesmo já havia se despedido semanas antes... Ele próprio sentiu que sua hora era chegada, mas eu não aceitei, não quis enxergar o quanto de verdade tinha naquela despedida... E hoje assumo minha parte da
responsabilidade, não que ele tenha sido mantido vivo por minha causa, mas com certeza eu colaborei para isto!!
Não me tornarei uma morienterapeuta, não porque este curso não existe, pois poderia me preparar para tal, mas assumo que a morte ainda me assusta, que não sei se teria as condições necessárias para conduzir com carinho uma pessoa ao seu fim... Mas com certeza, terei um outro olhar sobre querer manter aqui alguém que já partiu...
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