segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

A dor maior não é a perda e sim como ela se deu

Esta perda me dói muito mais, vai corroendo minha alma diáriamente a cada segundo da minha vida, mesmo que eu saiba que fiz por ele tudo, mesmo aquilo que muitas vezes ele disesse não querer....  Sei bem que viemos ao mundo sozinhos e que também sozinhos retornamos a nossa casa, mas com a perda do meu pai, foi diferente, ele nunca foi abandonado, embora no final sua doença permitiu aparecerem algumas rabugices... Todos, sem exceção estavam ao lado dele, até eu que em uma das visitas ele perguntou quem era, pois  não me reconhecia,perguntou meu nome, eu falei e ele me disse que nunca teve uma filha com este nome, muito embora lágrimas doídas escorressem pelo meu rosto, isto não impediu de ir vê-lo até a manhã de sua morte, portanto ele sempre esteve se sentindo amado....
Já meu irmão não, este sofreu de solidão neste último ano de vida e solidão das mais doloridas, pois os pseudo amigos que estavam com ele quando tinham vantagens também sumiram... Abandonado por filha, mulher, família porque a doença dele incomodava, mas no fundo, não era só doença, era carência, era estar vivo no corpo sentindo a alma deteriorar.... Fazia de tudo para chamar a a atenção, mas de um modo torto, onde as pessoas apesar de conhecerem a bondade extrema e o coração imenso passaram a ter delírios achando que ele seria capaz de matar um familiar. Não... E nem a ele próprio, sómente a tristeza da solidão que foi matando a alma e o corpo não resistiu!!

Lembro de ouví-lo dizer que o possível  qualquer pessoa fazia pelo outro, mas o impossível ele não conseguiria ver, sem se dar conta que na sua bondade ele mesmo sempre fez o impossível... Como sou a caçula, lembro apenas em flashs, mas mesmo assim não esqueço de quantas vezes o ví entrando em casa com frio por ter dado sua roupa para quem tinha frio... Quantas e quantas vezes tirou do seu próprio alimento para alimentar os famintos... Assim como Cristo deu a face várias vezes, ajudou o próximo, mesmo não crendo piamente na bondade daquele, mesmo o sabendo oportuno e aproveitador, mas mesmo assim,aquele era um irmão, um filho de Deus. Nosso pai maior o contemplou com a doença da mente, o que muitas vezes o tornou agressivo, mas foi justamente para nos testar, pois ele, era um dos mais queridos de nosso pai maior, por ter aceito vir ao mundo assim, tão intolerado, para mostrar aos irmãos que a bondade verdadeira se estende até mesmo ao mais perturbado dos seres...Mas assim foi sua vida, muitos o preferiram por longe e não aproveitaram de sua sabedoria, pelo contrário, sentiram-se ameaçados por tamanha grandeza envolta a verdade dita cruelmente.

TIve  o privilégio de ter sido escolhida por ele nestes seus últimos tempos de vida na terra para aprender um pouco sobre as artimanhas que nosso Pai maior usa para ensinarmos e muitas vezes temos medo... Agora que ele não mais habita esta terra, que a deixou da maneira que Deus escolheu para ele, como um mártir, abandonado pelas pessoas viventes, mas com Deus vivo em seu interior, deixou a lição mais bonita... Mostrou que o que vale neste mundo é mesmo um coração puro e não bens materiais, que vale a vivência própria e não a alheia, e assim ele viveu... Teve seus arroubos de agressividade advindos da doença que o fazia humano, mas viveu na bondade e no desprendimento que só mesmo uma criatura advinda do céu tem, e sendo ele um ser do céu que deu a esta família o privilégio da convivência, Deus teve a necessidade de implantar a doença mental para que ele ficasse um tanto confuso e nunca tivesse a certeza de saber-se um SER CELESTE!!

Ele foi um dos enviados de Deus para nos ensinar uma lição na terra, sofreu e se purificou ainda mais e a sua semente brotou em corações que souberam reconhecer sua bondade.

Minha vida depois destes meses tão próxima dele, participando de suas particularidades espirituais e humanas e do trabalho de resgate de almas, me sinto alguém que recebeu a missão de pelo menos tentar fazer o mundo um lugar melhor de se viver e se isto não for possível, pelo menos tentar fazer com que o mundo a minha volta consiga enxergar a bondade no outro muitas vezes envolta de névoa, pois somos seres humanos e não anjos celestes!!!

Creio que não conhecí, nem conhecerei outra alma capaz de tirar a roupa do corpo, o alimento de seu próprio sustento para dar áqueles que necessitam... Esta alma se purificou no sofrimento carnal, na solidão cruel, mas mesmo assim soube ser solidário há muitas pessoas anômimas que se juntam a minha dor!!!

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