domingo, 9 de outubro de 2011

Uma história real que se repete todo dia...

Há alguns anos atrás conhecí uma pessoa e para poder falar nela,preciso com certeza preservar sua identidade, portanto a chamarei de "Julie"...
Então, quando conhecí Julie, eu estava vivendo um momento crucial, um isolamento social total, nem mesmo convivia com minha família, pois equivocadamente eu acreditava que eles não davam para mim a devida importância, que tanto fazia o que eu estava sentindo, quando na verdade eu é que havia me afastado... Estava aborrecida por ter sido tão cuidada na adolescência, acreditava que isto me sufocava... Ledo engano, e só fui descobrir isso após conhecer Julie...
Numa noite eu e Julie conversavamos muito sobre nossas vidas...Foi aí que ela me falou intimamente sobre sua vida pessoal e principalmente familiar... Confesso, fiquei possuída, mesmo sabendo que assim como Julie, muitas pessoas viviam este descaso, mas ela agora fazia parte da minha vida e eu precisava fazer qualquer coisa que fosse para mostrar a ela que não importa o quanto teve uma mãe super ausente, que acreditava que soltar muita grana, carro, moto, seria o suficiente para construir um adulto consciente, um pai agressor e ausente que talvez ao invés de conquistar o respeito acabou fazendo com que ela abominasse os homens em geral... Pelo contrário, grana, falta de apoio em casa, causa danos muitas vezes irreversíveis!!! Drogas, mau caminho...

Ela nunca soube o que é ter  uma "mãe" de verdade, aquela que mesmo timidamente sabe demonstrar amor, cuidar... Nem mesmo um pai presente, que conversasse sobre os perigos do mundo com carinho... Teve sim, tio e avós que supriram tudo isto, e por aí é que me dou conta de onde vem a sensibilidade e o senso de verdade que ela tem. Apesar de muitas vezes entrar em uma confusão mental que não a deixa assumir nem mesmo quem é!

Pois bem, eis que me chega Julie, um passarinho de asas quebradas, precisando muito de mim e me mostrando que nada daquilo que eu não tive de liberdade, apenas não me deram um tipo de visão de vida, mas me fizeram uma filha amada, com regras, e isto fez quem sou hoje, apesar de transgredir algumas, mas agora sou adulta, sei o que faço e quais as suas consequências, assumo todas com a tranquilidade de que não estou magoando ninguém...

Apesar de minhas tristezas muitas vezes o que é normal no ser humano, sei que tenho por minha família um amor verdadeiro e nunca uma obrigação... 

Mesmo adulta recebo deles sempre o apoio necessário e eles é que são a minha base e não eu a deles.

Julie já teve uma vida... Sim, pois já assumiu verdadeiramente quem "é" há algum tempo atrás, viveu de forma inconstante, intransigente para as ditas regras sociais, mas feliz pois assumia seu "ser"... Não tinha base familiar nenhuma, ainda não tem... Mas assumia plenamente suas vontades e seus amores, pois acreditava neles... Coisa que hoje já não consegue mais, o que a torna a cada dia mais depressiva... Mal sabe ela que a felicidade plena só chega mesmo quando assumimos o que e quem somos, nossa forma de amar, mesmo que peculiar e nem sempre aceita por aqueles que ainda não descobriram que amor não tem regras... Quando nos dedicamos a nós mesmos, sem prejudicar os outros,e também sem deixar ser manipulados pela culpa de não sentir amor pelos que na verdade a sociedade decidiu que deveríamos, e estes mesmos sentem um pseudo amor que jamais será verdadeiro, fará com que pessoas como Julie sofram, tentem das mais variadas maneiras suprir o amor que pensam ser obrigação ter por aqueles que os trouxeram ao mundo apenas e supriram enquanto puderam, o material.

E este tipo de coisa Julie conseguiu me ensinar... Não me culpar por não receber amor de pessoas que deveria receber, ou talvez imaginasse que sim, pois fomos criados para receber e dar amor a certas pessoas mesmo que no fundo sejam estranhos para nós... Pena que Julie soube me ensinar, mas não conseguiu desfazer seus próprios nós quanto a isto, gerando, mesmo que ela não se dê conta uma depressão, um pseudo amor  e acomodação... Julie precisava tomar consciência de si própria, tomar as rédeas da sua vida e não mais depender do empurrão de quem quer que seja.

Assim como Julie temos muitos e muitos adolescentes e adultos... Sem base, sem amor, sem família de verdade, todos sucumbindo em uma parte da vida assim como Julie que não consegue viver plenamente nem mesmo suas relações pessoais.

Infelizmente eu acho que cheguei após tantas vírgulas ao ponto final desta minha simbiose com Julie... Não a reconheço mais... Ela voltou a ser triste, desmotivada e sózinha e mesmo que eu seja uma companheira incansável, muitas vezes sinto uma solidão acompanhada, pois ela já nem consegue falar mais, está sucumbindo de maneira rápida demais e eu não estou conseguindo ter ânimo para ajudá-la a levantar, preciso voltar a tomar as rédeas da minha vida... Nós só podemos tentar ajudar as pessoas, não viver a vida por elas....

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