Desde o início de 2009, quando conquistou tanto o grande público quanto formadores de opinião, Gadú que tem 24 anos, mas faz música desde que se entende - escreveu seu maior hit, "Shimbalaiê", aos 10, e só não a perdeu no fundo da memória por causa da mãe, Neusa, que insistiu em registrá-la. Mãe que também muito contribuiu para a sua paixão, alimentando-a desde o berço com um rico repertório, que contava com "Alegria, alegria" entre as dez mais de sua parada de sucessos particular.
- "Alegria, alegria" é a minha "Shimbalaiê", também a escrevi aos 10 anos - brinca Caetano, para depois detalhar mais paralelos entre a canção que o consagrou nacionalmente, em 1967, aos 25 anos, e a de Gadú. - Da mesma forma que ela não gosta de cantar "Shimbalaiê", raramente incluo "Alegria, alegria" em meus shows. E se ela está agora no roteiro, é para mostrar essa coincidência.
O encontro no palco começou a nascer há cinco meses, numa festa fechada, e prosseguiu, no fim de agosto, na festa televisionada do Prêmio Multishow. A sintonia foi tanta, assim como a repercussão junto aos fãs de ambos, que o flerte virou um namoro musical firme. Apenas os dois e seus violões, em números individuais ou em duo: abrem com "Beleza pura", e, em seguida, Gadú canta solo sete músicas; voltam a se juntar em "O quereres" ("É a minha preferida de Caetano", diz ela, que já no primeiro ensaio cantou a complexa letra por inteiro, para surpresa do autor) e "Sampa"; e, depois, o cantor faz sozinho sete outras; para a dupla fechar a noite com mais oito canções.
Encontro que vai gerar o inevitável DVD, numa parceria das gravadoras de Caetano e Gadú - respectivamente, Universal e Som Livre -, com direção de Fernando Young e Gualter Pupo. Toda a turnê está sendo registrada, assim como cenas de bastidores, incluindo a entrevista para o GLOBO, feita no apartamento da cantora.
A diferença de idade não pesa. Aos 68 anos, Caetano tem um diálogo constante com os jovens, tanto que sua banda a partir do disco "Cê" é liderada pelo guitarrista Pedro Sá - de 38 anos, e desde os 7 amigo de seu filho mais velho, Moreno -, que convocou dois músicos mais novos ainda. Já Gadú, por trás de sua estampa de "moleque com peitão" (a definição é do novo parceiro de palco), esbanja maturidade. Ela faz música profissionalmente desde os 12, 13 anos, quando começou a se apresentar em bares de São Paulo, e, antes de fazer o mesmo no Rio - e, em 2008, chegar aos ouvidos de Jayme Monjardim, no início da produção da minissérie "Maysa" -, rodou a Europa por quatro meses, se virando graças ao seu natural talento. Talento que, no início de 2009, chamou a atenção de Caetano, que a viu num de seus primeiros shows, no extinto Cinemathèque:
- Na época, vi muita gente nova, Tiê, Ava Rocha, Jonas Sá, Tono... No caso de Gadú, a (produtora musical) Beth Araújo tinha me dito que era uma nova Cássia Eller, mas encontrei uma menina, sentada nessa mesma posição de lótus que está agora, de voz suave, até mais influenciada por Marisa Monte.
Logo, Gadú provou que ia além dessas referências e se impôs, num cenário totalmente diverso daquele que Caetano encontrou ao virar cantor, na época dos grandes festivais competitivos que contaminavam o Brasil através da TV. Hoje, com conteúdo rodando livre pela internet, o disco pode não ter mais tanto peso, mas ela já vendeu 130 mil cópias de sua estreia, provando que exceções e talentos naturais confirmam as regras. Enquanto a cumplicidade dos dois e de seus públicos mostra que faixa etária não divide ninguém.
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